segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

A correnteza e a igualdade

A correnteza e a igualdade

A propriedade de ser igual é sempre muito questionada no dia-a-dia das relações, entretanto, nada como um exemplo prático para que possamos visualizar, na íntegra, a igualdade entre um ser humano e outro. Outro dias desses, enquanto atravessava a fronteira do Brasil com a Bolívia, fui testemunha ocular de um cenário eminentemente democrático. E, ao analisar aquele cenário, percebi que há algumas situações na vida, que por mais que o homem queira tornar-se diferenciado, o contexto não ajuda. A travessia de barco para chegar em Guayaramerin na Bolívia, partindo de Guajará-Mirim no Brasil, é um típico cenário onde a igualdade reina por alguns minutos. É entrar no barquinho e somos todos iguais !
A odisséia da igualdade começa quando entramos no barco e sentamos nos banquinhos de madeira, no barco não existe a classe executiva, mas apenas uma única classe: a classe "mega-super-ultra-hiper-econômica" ou também conhecida como "classe-esscorpião-no-bolso" !O valor da passagem é também único, tanto faz sentar na frente ou na parte traseira do barco. Ah... os salva-vidas são todos iguais e possuem o mesmo cheiro, não tem problema, todo mundo consegue um jeito de colocá-lo bem amarrado para não correr o risco de se soltar, afinal, a correnteza do rio é forte e o seu leito é extremamente caudaloso.
A travessia dura poucos minutos e é emocionante não apenas pela Natureza exuberante, mas principalmente pelo ambiente sui generis que ali se forma. Eu batizaria o momento de “momento evangélico”, sim, evangélico ! Lembra daquela aula de catecismo que a professora falava que éramos todos iguais? Pois é...o rico e o pobre ao entrar no barco são todos passageiros e dividem o mesmo espaço, pois é... há uma verdadeira transformação e os minutos e riscos são comugados de maneira iguazinha! Todos ficam ali sentadinhos um do lado do outro esperando chegar em Guayara ( oasis dos preços baixos) .
O vai-e-vem das ondas fluviais embala o operário da usina, o desempregado boliviano, a dona de casa, o juiz, o médico, o servidor público, o agricultor, a criança, o velho, o jovem e qualquer um que estiver ali sentado. Afinal de contas, a força da Natureza trata todo mundo de maneira igual, e é tão igual que, se cair no rio, a correnteza leva de todo jeito, não há uma entrevista prévia, ela leva mesmo ! Ainda que os rostos denotem emoções diferenciadas, não importa, todos possuem o mesmo objetivo: chegar do outro lado do rio vivo ! E para isso, não há outra maneira: é sentar no banquinho,equilibrar-se no barquinho, colocar o salva-vida e ser feliz ! E viva a igualdade!
É... na essência somos todos iguais! E quem duvidar, eu proponho um teste: caia no rio sem salva-vidas e verifique se a correnteza não lhe leva ? Risos...a correnteza, meu amigo, é por demais democrática ! Eu é que não duvido, quer duvidar ? Então leva seu currículo e joga na água antes de cair.
:-)



Adriana Simeão.



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